Memória >> Entrevista JOSÉ FERREIRA ROCHA

O Início da FAMENQUIL

Com a finalidade de preservar a memória histórica de nossa querida FAENQUIL, hoje um campus da USP na cidade de Lorena, entrevistamos José Ferreira Rocha, em cearense lutador e vencedor, oficial formado pela AMAN – Academia Militar das Agulas Negras, graduado em Engenharia Química pelo IME – Instituto Militar de Engenharia. Foi funcionário durante muitos anos da FPV – Fábrica Presidente Vargas e que teve uma participação muito importante na criação da FAENQUIL, na qual foi docente e pesquisador. É mestre em Engenharia Mecânica pela EFEI – Escola Federal de Engenharia de Itajubá, tendo também participado de inúmeros congressos no Brasil e no exterior, além de ter sido um empresário bem sucedido.

HM - Como nasceu a ideia da Faculdade?
ROCHA - Logo que chegou à FPV, o Maj. Luiz Sylvio Teixeira Leite me procurou para com ele criarmos um curso pré-vestibular em Lorena. Vim com ele a Lorena e, juntamente com o Cel. Claudino Ferreira de Barros, fomos à residência do Sr. José Geraldo Alves, conhecido na intimidade por Geraldinho, Vice Prefeito de Lorena, na administração do Sr. Cornélio de Azevedo Nunes. Na ocasião, o Geraldinho nos perguntou por que não criarmos em Lorena uma Faculdade de Engenharia Química, em vez de Curso Pré-Vestibular. Foi o nascimento da idéia. Voltamos à FPV e pensamos no ousado projeto e trouxemos para área jurídica o Advogado Benedito Olegário R. Nogueira de Sá, ex-Diretor da Faculdade de Direito de Taubaté e experiente no assunto junto ao Conselho Estadual de Educação. A idéia para viabilização foi criar uma Autarquia Municipal, surgindo a FAMENQUIL – Faculdade Municipal de Engenharia Química de Lorena. Ao mesmo tempo, obtivemos o inestimável apoio do Diretor da FPV, General José Alves Martins, que muito ajudou a Comissão de Planejamento da Faculdade na esfera federal

HM - Quem participou da criação da Faculdade. Por quê?
ROCHA - Como pode ser visto no item anterior, os três atores principais foram: Luiz Sylvio Teixeira Leite, José Ferreira Rocha e Claudino Ferreira de Barros, além do Dr. Olegário, Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores de Lorena e do General José Alves Martins, estes participando com o apoio devido e necessário. Os membros diretos da Comissão Especial de Planejamento e Implantação da FAMENQUIL, tinham as seguintes atribuições:
-Teixeira Leite: Coordenação das atividades do Projeto e relacionamento externo. -Rocha: Planejamento Curricular, ou seja, elaboração do Currículo, dentro dos objetivos estabelecidos pelo Ministério da Educação.
-Claudino: Atividades de natureza administrativa.

HM - Por que foram criados os três cursos e o regime trimestral?
ROCHA - Os três cursos e o regime trimestral foram devidos a imposição do MEC, que dava à Faculdade em criação um caráter experimental, dentro da ideia reinante da época, de se implantar no País o ensino tecnológico, a exemplo do que existia nos Estados Unidos e Europa.
Abraçamos este conceito e trabalhamos no sentido de montar um currículo que atendesse o que ora estava sendo preconizado pelo Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, se bem me recordo.

HM - Por que a FAMENQUIL passou a FAENQUIL?
ROCHA - Como já foi dito, os Poderes Públicos de Lorena, para poder dispor dos recursos existentes com fim específico de uso na educação superior, criaram uma Autarquia Municipal, a FAMENQUIL, que posteriormente passou a se denominar FAENQUIL, com a criação da Fundação Centro Vale de Ensino e Pesquisa Química Industrial, iniciando a desvinculação do Município e se voltando mais para a área federal, desenvolvendo Projetos de interesse do Ministério da Indústria e Comércio, tais como produção de oxigênio, plásticos, destilados retificados, etc

HM – E por que passou a ser a Fundação de Tecnologia Industrial?
ROCHA - Posteriormente, com a implantação de Projeto também de interesse do governo federal, na área de materiais (nióbio) e biotecnologia, foi criada a FTI - Fundação de Tecnologia Industrial, da qual fazia parte a FAENQUIL, a quem cabia a parte de ensino acadêmico.

HM – Como se sentiu lecionando na FAENQUIL?
ROCHA - Logicamente, sempre foi algo muito gratificante, primeiramente criar uma faculdade, partindo do nada e ver esta criação se tornar realidade e em segundo lugar, ter oportunidade de ensinar, transmitir conhecimento e dar vida àquilo que ajudei a criar, pois isto era a materialização do meu segundo compromisso com a educação, contribuir para a formação das gerações mais novas. O mais importante mesmo era a convicção de que podia me considerar útil à sociedade e ao meu País em área tão nobre.

HM - Quanto tempo esteve na FAENQUIL e por que saiu?
ROCHA - Na verdade eu saí três vezes da Instituição. A primeira, foi da então FAMENQUIL, da qual fui Vice-Diretor, por incompatibilidade com o estilo gerencial do Teixeira Leite. Posteriormente, retornei como Professor, a convite do então Comandante do 5° Batalhão de Infantaria de Lorena, Cel. Luiz Paulo Fernandes de Almeida, que me chamou à sua casa especificamente para pedir a minha volta à Faculdade, assim como igualmente o fez o Prefeito Carlos Eugênio Marcondes e o próprio interventor na Faculdade, o Professor Rojas, que substituiu o deposto Prof. Teixeira Leite. Permaneci um bom tempo, com o mesmo entusiasmo do início, deixando a Instituição pela segunda vez, em função do meu ingresso na Avibras Ribeiro Aeroespacial, em São José dos Campos e a decorrente incompatibilidade de horários.
Com a minha saída da Avibras, onde estava na Gerência da Fábrica 3, também implantada por mim em Lorena, retornei à FTI, onde permaneci até a implantação da minha empresa própria, voltada para o desmonte de rocha na indústria de mineração e construção pesada, com novo e atrativo explosivo não convencional, as Emulsões Explosivas. As atividades nesta empresa, todas fora de Lorena, me impossibilitaram de continuar lecionando na Faculdade, motivo do meu terceiro afastamento.

HM – Qual o papel da Prefeitura de Lorena na implantação da FAMENQUIL?
ROCHA - A Prefeitura muito ajudou na implantação e nos anos iniciais de funcionamento da Faculdade, seja com recursos financeiros, custeando um Curso Preparatório para o primeiro vestibular (este Curso funcionou no Colégio Patrocínio São José), seja cedendo prédio para instalação, onde hoje funciona parte da Prefeitura, na Rua Capitão Messias. Deve-se registrar também o apoio da Câmara Municipal, aprovando o que era proposto pelo Prefeito.

HM – Qual o Papel do Coronel Claudino na criação da Faculdade?
ROCHA - O Cel. Claudino teve papel muito importante no Projeto, principalmente na parte administrativa. Trabalhou com afinco e extrema dedicação. Como eu, ele também discordou dos rumos administrativos do Teixeira Leite e afastou-se da Faculdade, logo após a sua inauguração, só retornando com a vinda do Professor Rojas, a convite deste.

HM - E do General Martins, Diretor da FPV ?
ROCHA - Como já disse anteriormente, o papel do Gen. Martins foi fundamental para o êxito do Projeto FAMENQUIL. Entre as diversas ações concretas de apoio ao nosso trabalho, nos ajudando a resolver todas as dificuldades operacionais, tanto na área militar quanto civil. Um apoio importantíssimo, sem a qual, talvez a FAENQUIL se inviabilizaria.

HM – Por que Teixeira Leite saiu repentinamente da Direção da FAENQUIL?
ROCHA - Eu estava fora da Instituição, portanto não saberia dizer o que ocorria e o que provocou a saída do Teixeira Leite. Só sei é que a situação parecia grave, pois envolvia diversos segmentos contrários ao estado de coisas reinante. Assim é que fui chamado pelo Prefeito Municipal, Carlos Marcondes, que se fazia acompanhar do Promotor Público de Lorena, Dr. Alberto Antonio Zvirblis, para me consultar sobre a possibilidade de voltar para a Faculdade que ajudei a criar. O fato é que, de repente, o Teixeira Leite sai e assume o Prof. Rojas, vindo da Universidade de Vassouras. Foi aí que retornei à Faculdade, mas sem me preocupar com o que teria ocorrido..

HM – Tem alguma consideração final a fazer?
ROCHA - Fui informado pelo Prof. Carlos Roberto de Oliveira Almeida, de que a EEL - Escola de Engenharia de Lorena, dobrará o número de alunos em 5 anos, de que o Colégio Técnico é um dos melhores do País e, finalmente, que Lorena e a Região irão se desenvolver muito em função da criação de um Pólo Tecnológico, tendo a EEL como principal centro desse crescimento. Isto é muito gratificante e me traz uma satisfação imensa, ao saber que algo que ajudei a implantar esteja trazendo tantos benefícios para a Região e para o País. Sinto uma alegria incontida, na certeza de ter sido útil a esta terra que me acolheu.

Entrevista realizada pelo prof. Carlos Roberto de Oliveira Almeida