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BIRÃO
por Alexandre E. S. Visconti


Birão era um cara singular. Já começava pelo apelido, eu nunca entendi como Angelo, um nome tão bonito, tinha virado Birão e, muitas vezes, não conseguia nem lembrar seu nome por isso; era mesmo Birão. Antigo na casa, pertencia àquela safra de empregados que entraram na antiga FTI para tocar as usinas de álcool - era um veterano. Depois, com o final dos experimentos, fez um curso de caldeiras e era responsável por essa parte, sempre que havia necessidade. Entendia bem do assunto e, muitas vezes, discordava até dos técnicos e engenheiros quanto a algum problema, mas era muito delicado para afrontar os outros e vinha desabafar com os amigos sobre as bobagens que estavam fazendo. Os amigos mais chegados no Debiq, ultimamente, eram eu, o Nicamor, o Renatinho, o Djalma e a Lucinha, todos mais antigos como ele e, por isso mesmo, carinhosamente, nós nos chamávamos de "defuntos".

Lembro-me bem do Birão jogando futebol ou truco, suas antigas paixões, se bem que, ultimamente, gostava de jogar "paciência" no computador. No futebol era um ponta direita parrudo e destemido, não era propriamente um craque da bola, mas tinha muita força de vontade e ímpeto.

Depois, com a idade, foi parando, devido, inicialmente, a um problema de ácido úrico e depois, de hipertensão, mas negligenciava os remédios. Cansei de lhe aconselhar a tomar os remédios para pressão, mas ele dizia que não tinha muita paciência e que nem adiantavam muito.

Birão estava no ápice de sua vida, pois havia conseguido comprar recentemente o sítio de seus sonhos no alto da serra e um carro e cogitava em se aposentar, mas as emoções foram fortes demais para ele e Deus resolveu chamá-lo.

Que descanse em paz, pois, certamente, se encontra num bom lugar, aquele, reservado para as pessoas cuja bondade e solicitude os torna incapazes de fazer mal a quem quer que seja. Deixa mulher filhos e netos que, certamente, sentirão muito sua ausência, assim como nós também sentiremos.